terça-feira, 18 de outubro de 2011

Zuma!

Seven Dials Goes Zuma
Published 18th Aug 2006 by Laura Creasey

O poder de Montezuma era algo que Cortez teve que aprender a conviver. Ele organizou a chamada Tríplice Aliança que reunia as três cidades do vale do México: Tacuba, Texcoco e Tenochtitlán. E estas resistiram bravamente à conquista enquanto puderam.

Cortez se esforçava para mostrar a tirania de Montezuma, fundada na força e na cobrança de impostos dos povos dominados. Assim, as investidas dos espanhóis foram confundidas com uma guerra de libertação que nunca ocorreu de fato. Os espanhóis nunca intencionaram oferecer a liberdade aos ameríndios. Mas precisavam derrotar o grande Montezuma e mostrá-lo como súdito do imperador Carlos V, da Espanha. E para isso, a política de coexistência com o invasor que Montezuma, de certa forma escolheu, ajudou Cortez.

Mesmo com a morte de Montezuma, houve muita resistência. No entanto, o México foi conquistado no dia 13 de agosto de 1521. Quando cessaram os combates os mexicas eram só desespero, os índios apresados foram marcados a ferro nas faces, as crianças foram afogadas ou pisoteadas e havia cadáveres por todo lado.

A história do Novo Mundo ficou marcada pelo genocídio. A cruz não serviu para muita coisa naquele tempo.  A razão também não havia fincado fortes raízes que fossem capazes de impedir os massacres. Felizmente, nos dias de hoje tudo mudou e não convivemos mais com a guerra, com a morte indiscriminada ou com o terror. Os homens já aprenderam a lição, não é mesmo?
Abraço!

sábado, 15 de outubro de 2011

O Mestre ignorante e a escrita


A experiência, e não a verdade, é o que dá sentido à escritura. Escrevemos para transformar o que sabemos e não para transmitir o já sabido, disse o historiador Michel Foucault. Se alguma coisa nos anima a escrever é a possibilidade de que esse ato, essa experiência em palavras, nos permita liberar-nos de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos para ser outra coisa, diferentes do que vimos sendo.

Também a experiência, e não a verdade, é o que dá sentido à educação. Educamos para transformar o que sabemos, não para transmitir o já sabido. Se alguma coisa nos anima a educar é a possibilidade que esse ato, essa experiência em gestos, nos permita liberar-nos de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos, para ser outra coisa para além do que vimos sendo.

Quem sabe assim possamos ampliar nossa liberdade de pensar a educação e de nos pensarmos como educadores. Se a filosofia é um gesto que afirma sem concessões a liberdade de pensar, então nosso caminho é o de reconhecer o que ignoramos e desenvolver todas as conseqüências desse reconhecimento. Assim, alunos e mestres ignorantes poderão sempre partir em direção ao que os emancipa, ao que pode significar realmente a liberdade, à produção de um pensamento e de uma cultura que não podem ser colonizados por lógicas ligadas ao mercado, ao consumo, ou qualquer outra forma de doutrinamento.

A escrita pode ser esta tarefa, esta experiência intransferível que nos coloca diante do desafio de tornar público nosso modo de pensar, estando assim sujeitos à interlocução e às críticas.

Neste dia do professor escolhi “O mestre ignorante” para reler. O texto acima é, em parte, uma cópia adaptada da apresentação do livro de Jacques Rancière, escrita pelo filósofo Jorge Larrosa.  Senti vontade de partilhar com os alunos as preocupações de um professor-estudante, mas para isso usei as palavras de um Mestre.

Abraço!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Hobsbawm e o aniversário da chegada dos europeus


Neste 12 de outubro, dia significativo para o encontro entre os europeus e os ameríndios, publico um recorte que fiz de um capítulo do livro "Pessoas Extraordinárias", do historiador Eric Hobsbawm. Ele é um ponto de vista que, de alguma forma, contrasta com a abordagem de Bartolomeu de Las Casas, cujo texto levo esta semana para a sala de aula... Boa leitura!

O VELHO MUNDO E O NOVO: QUINHENTOS ANOS DE COLOMBO

No início de 1992, pediram-me no México para assinar um protesto contra Cristóvão Colombo, em nome das populações nativas originais das ilhas e dos continentes americanos, ou melhor, de seus descendentes. Compreendo os sentimentos que inspiram tais gestos, e sou solidário, mas pareceu-me, e parece-me, que o único objetivo de protestar contra algo que aconteceu há meio milênio é conseguir um pouco de publicidade para a causa de 1992, em vez de para a de 1492. As conseqüências das viagens de Colombo e de seus sucessores são irreversíveis. Os sofrimentos impostos aos americanos nativos ou aos africanos importados são inegáveis e não podem ser anulados em retrospecto. Não se pode negar que o impacto da conquista e da exploração sobre as populações foi catastrófico. Não obstante, não podemos anular a história, mas apenas lembra-la, esquece-la ou inventa-la. Todos os que vivem nas Américas hoje, foram moldados pelos quinhentos anos que decorreram desde a viagem de Colombo. Mas também o foram todos os do Velho Mundo, embora de maneira raras vezes consciente.

A contribuição mais importante das Américas ao Velho Mundo foi distribuir pelo globo uma cornucópia de produtos selvagens e cultivados, especialmente plantas, sem as quais o mundo moderno tal como o conhecemos não seria concebível. Pode-se argumentar que isso não tem nada a ver com cultura. Mas o que cultivamos e comemos, sobretudo quando há um novo tipo de víveres desconhecido em nosso cotidiano, ou mesmo uma forma completamente nova de consumo, deve influenciar, pode até transformar, não só o nosso consumo, mas o modo como vivenciamos outros assuntos. Considerem-se apenas os víveres básicos. Quatro dos sete produtos agrícolas mais importantes no mundo de hoje são de origem americana: a batata, o milho, a mandioca e a batata doce. (Os outros três são o trigo, a cevada e o arroz).
(…)
Mas, e os produtos do Novo Mundo que não foram meros substitutos de coisas já consumidas no Velho Mundo, mas abriram novas dimensões, novos estilos sociais? Chocolate, tabaco, cocaína? Ou que se tornaram ingredientes básicos de novidades como o chiclete, a Coca-Cola (mesmo que tenha tirado a cocaína de sua composição original) e a tônica do gim-tônica? E as significativas contribuições à farmacopéia médica do mundo, como o quinino, durante muito tempo a única droga capaz de controlar a malária? E os girassóis que Rembrandt e Van Gogh pintaram, os amendoins sem os quais a sociabilidade ocidental moderna seria incompleta - para não mencionar seu uso mais prático como fonte importante de óleos vegetais?.
(…)
Em suma: estamos falando de produtos do Novo Mundo que eram desconhecidos e impossíveis de se conhecer antes da conquista das Américas, mas que transformaram o Velho Mundo de maneira imprevisível e profunda.
O que quero enfatizar é que esses produtos não foram simplesmente “descobertos” pelos europeus, e menos ainda procurados deliberadamente, da maneira como os conquistadores procuravam ouro e prata. Eram produtos conhecidos, colecionados, sistematicamente cultivados e processados pelas sociedades indígenas. Os conquistadores e os colonos aprenderam a prepará-los e usá-los nessas sociedades locais. Na verdade, teria sido difícil ou talvez impossível sobreviver, caso os colonos não tivessem aprendido com os nativos. Até hoje a grande festa simbólica, o dia de Ação de Graças, registra a dívida dos primeiros colonos para com os índios, os quais a civilização branca subseqüente se encarregou, em troca, de expulsar. (…)

Meu argumento é que o verdadeiro significado e natureza do encontro de culturas, inaugurado quando Colombo aportou nas primeiras ilhas do Caribe, não pode ser entendido comente em termos de história convencional. Se perguntarmos o que a Europa conseguiu com a conquista do Novo Mundo, a resposta óbvia é a expansão de alguns países no lado ocidental do continente, por meio do governo imperial, da riqueza extraída do trabalho dos índios e dos africanos, e do povoamento de migrantes e colonos provenientes de países da Europa, ao estabelecerem novas Castelas, novos Portugais e, mais tarde, novas Inglaterras. É significativo que a data da descoberta da América por Colombo seja também a data da conquista de Granada e da expulsão dos judeus da Espanha. O ano de 1492 marca o início da história mundial eurocêntrica, da convicção de que uns poucos países europeus centrais e ocidentais estavam destinados a conquistar e governar o globo, a euro-megalomania.

Mas outras consequências diretas da conquista e da colonização das Américas ainda estão conosco. Não pertencem a homens famosos nem a governos. Mas transformaram o tecido da vida européia para sempre. E também a de outros continentes. Quando a história econômica, social e cultural do mundo moderno for escrita em termos realistas, a conquista do Sul da Europa feita pelo milho, do Norte e Leste da Europa pela batata, e das duas regiões pelo tabaco, e mais recentemente pela Coca-Cola, parecerá mais proeminente do que o ouro e a prata em nome dos quais as Américas foram subjugadas.

HOBSBAWM, Eric. O velho mundo e o novo: quinhentos anos de Colombo. IN: Pessoas extraordinárias: resistência, rebelião e jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1998. p. 405-414.

domingo, 9 de outubro de 2011

A organização e o avanço da conquista...


Fonte do mapa: http://photos.mongabay.com/pt/Map_of_Central_and_South_America.htm

Olá turma,

Ao ler o texto abaixo, desconfio que vocês vão entender a importância de se localizar a partir do mapa que trago neste post. A geografia da América é uma boa pista para olhar e ver a "conquista". Passe o mouse por cima da figura e clique para ampliar.


A Península Ibérica, com exclusão de Portugal, tem uma superfície de pouco menos de 500 mil quilômetros quadrados. A superfície das Américas que cabia à Espanha entre 1519 e 1540 era de dois milhões de quilômetros quadrados. A coroa, que tinha cerca de seis milhões de súditos antes da expansão marítima, agora adquiria algo em torno de 50 milhões de súditos nas Américas.

A conquista se expandiu a partir de Cuba, entre 1516 e 1518, atravessou o México de 1519 a 1522, destruindo a confederação asteca, e depois irradiou-se para o norte e para o sul a partir do planalto central mexicano.

Outro braço da colonização partiu do Panamá, deslocando-se até a Nicarágua, entre 1523 e 1524. Depois tomou a rota do Pacífico rumo ao sul para a conquista do império inca em 1531-1533. Do Peru os conquistadores rumaram para Quito e Bogotá, onde encontraram outros grupos que desciam pela costa da Venezuela e da Colômbia. Seguiram então para o Chile, onde Santiago foi fundada em 1542 por Pedro Valdivia.

Do outro lado do continente uma expedição que vinha da Europa, sob o comando de Pedro de Mendoza, tentou sem sucesso ocupar a região do rio da Prata, em 1535-1536, e terminou por deixar um remoto posto avançado de colonização no Paraguai. Buenos Aires, fundada pela primeira vez em 1536 e destruída em 1541, foi fundada novamente em 1580, desta vez não a partir da Europa, mas de Assunção.

Embora tenha havido muitos movimentos rebeldes à dominação, persiste o fato de que as regiões povoadas por uma população indígena maior e mais densa caíram sob o domínio espanhol no espaço de uma única geração. Uma pergunta que pode nos encorajar a estudar todo este processo histórico é a seguinte: como se pode explicar a extraordinária rapidez dessa "conquista"?

O texto de hoje foi composto a partir da seguinte referência bibliográfica:

- BETHELL, Leslie. História da América Latina: A América Latina Colonial I, volume 1. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.