História de um Brâmane*
Durante minhas viagens encontrei um velho brâmane – homem muito sábio, cheio de espírito e erudição; além do mais era rico, e portanto, mais sábio ainda.
Perto de sua moradia morava uma velha hindu, muito devota, nada esclarecida e extremamente pobre.
Um dia o sábio me disse que preferia não ter nascido. Perguntei-lhe por quê.
- Faz quarenta anos que eu estudo, ensino aos outros e ignoro tudo! Não sei por que existo. Sou feito de matéria, penso e nunca pude saber o que produz o pensamento em mim. Esse estado me enche a alma de tanto desgosto que faz com que minha vida seja insuportável.
O estado desse homem me causou verdadeira compaixão: ninguém tinha mais senso e boa fé. Compreendi que, quanto mais luzes havia no seu entendimento e mais sensibilidade no seu coração, mais infeliz era ele.
Vi no mesmo dia a velha, sua vizinha: perguntei-lhe se alguma vez havia ficado aflita por querer saber como era a sua alma. Ela nem entendeu minha pergunta. Jamais em sua vida refletira um instante sobre um só dos pontos que atormentavam o brâmane.
Impressionado com a felicidade daquela pobre criatura, voltei ao meu filósofo e lhe disse:
- Não te envergonhas de ser infeliz, quando mora à tua porta uma velha que não pensa em nada e vive feliz?
- Tens razão – respondeu-me ele. – Mil vezes eu disse a mim mesmo que seria feliz se fosse tão tolo como a minha vizinha, contudo não desejaria tal felicidade.
Diante da resposta do sábio, pensei ainda: aqueles que estão contentes consigo mesmos estão bem certos de estar contentes; mas aqueles que raciocinam não têm tanta certeza de raciocinar bem.
E até hoje não encontrei ninguém que aceitasse se tornar imbecil para se sentir contente.
Daí concluí que, se damos valor à felicidade, damos mais ainda à razão.
Referência bibliográfica:
Adaptado do livro “Contos de Voltaire”, Editora Nova Cultural, 2002, pág. 235-239.
* Membro da casta sacerdotal, a primeira das castas hindus. (Nota do Tradutor)
Se você veio até aqui, merece saber que este texto faz parte da avaliação de amanhã. Leia de novo. Amanhã vamos conversar sobre ele.
Abraço!
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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5 comentários:
Roberta 7º D
=D
há, que ótimo... eu acho que entendi (eu só acho viu???)
o cara lá (o velho brâmane) era muito rico (e muito sábio), só que ele, do nada, teve um surto e não sabia mas porque existia, ele achava que a vida (dele) era insuportável porque não sabia porque pensava.
o autor se questionou que, se o sábio não sabia, ninguém saberia.
descobriu que quanto mais sábio você é, mais dúvidas você tem. Mas que ele prefere o questionamento do que a "não inteligencia".
(essa parte eu não entendi=> Diante da resposta do sábio, pensei ainda: aqueles que estão contentes consigo mesmos estão bem certos de estar contentes; mas aqueles que raciocinam não têm tanta certeza de raciocinar bem.
E até hoje não encontrei ninguém que aceitasse se tornar imbecil para se sentir contente.
Alguem pode explicar??)
muito legal esse texto! adorei e pude entender um pouco o outro modo de pensar alem do comum!
Barbara Fonseca 7ºE
Oi Roberta,
Sobre o que vc disse que não entendeu, eu tentei explicar:
Aqueles que têm certezas estão contentes e confortáveis com elas.
Aqueles que duvidam, que questionam, estão desconfortáveis, procuram respostas, caminham um caminho que não existia antes deles. Estão construindo um caminho com o seu pensar.
Isto dá trabalho e você não sabe se está construindo o melhor caminho possível.
O autor acha melhor viver esta dificuldade do que não pensar e viver contente, sem estas angustias.
Espero ter ajudado...
Esse texto fala de escolhas, isto é, o velho brâmane estava indeciso se deviria ser tolo porém feliz, ou completamente sabia. O autor conta que o velho brâmane pensou varias vezes em se tornar completamente sábio para alcançar a felicidade extrema, porém ele percebe que prefere conviver com essa dificuldade do que se tornar completamente tolo e feliz.
Ana Carolina Davoli - 7°D
Bianca Fernandes - 7°D
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