Túmulo de Colombo - Catedral de Sevilha - O almirante é carregado pelos Reis de Castela, Leão, Aragão e Navarra.
Os livros didáticos não entram em determinados terrenos tortuosos da historiografia, como dúvidas e contradições ainda não tão bem resolvidas pelos historiadores. Os autores de livros didáticos procuram pontos pacíficos, relações de causa e efeito e lógicas bastante claras para que tenhamos respostas satisfatórias ao explicar como a história aconteceu.
Como resultado, algumas histórias interessantes ficam de fora do livro. Por isso, eu resolvi contar um pouco mais sobre a viagem de Colombo aqui mesmo, no blog.
Em 1493, no início do mês de março, na extremidade norte do reino de Castela, na entrada de Baiona, um pequeno porto de pesca de sardinhas, uma caravela de aparência judiada, com alguns danos fáceis de notar até para um não iniciado em navegação e trazendo a inscrição Pinta, avança na névoa e sob a garoa. Ao atracar, a nave comandada por Martín Alonso Pinzón é a única que voltara daquela expedição, que partiu no ano anterior, buscando alcançar as Índias pelo caminho do Oeste.
A Santa Maria encalhara nas Antilhas na noite de natal, e a Nina, a bordo da qual se encontrava o Almirante Cristóvão Colombo, desaparecera durante uma tempestade perto dos Açores, na noite de 14 para 15 de fevereiro. Dentro do Nina o desespero é grande e os marinheiros sorteiam aquele que, se Deus livrá-los do naufrágio, irá até o mosteiro de Guadalupe com uma vela de cinco libras. Colombo é o primeiro a tirar a sorte, extraindo do saco o grão-de-bico marcado; assim, será ele quem deverá cumprir a promessa.
Ao desembarcar, Pinzón enviou uma carta à corte para anunciar sua chegada e, como estava doente de sífilis (uma doença venérea contraída nas Antilhas), foi para sua terra natal, a Andaluzia.
Colombo chegou primeiro em Lisboa, cidade batizada como a Rainha do Tejo, de onde enviara uma mensagem a Isabel e Fernando, que estavam em Barcelona. Por isso, o reconhecimento de Colombo estava garantido. Ele não havia naufragado e as honras da descoberta não ficariam com Pinzón. Que talvez tenha desejado isso, por conta dos desentendimentos entre os dois navegadores pouco antes da chegada às novas terras.
Estas poucas curiosidades sobre a aventura de Colombo são uma forma de dizer para vocês que há um verdadeiro mar de histórias para saber sobre cada assunto que pode parecer encerrado no seu livro didático.
A pesquisa é o caminho para saber que, de verdade, sabemos muito pouco... Este texto foi escrito com base no livro “História do Novo Mundo”, de Carmen Bernard e Serge Gruzinski, publicado pela Editora da USP, em 1997.
Abraço!
sábado, 10 de setembro de 2011
Descoberta, encontro ou invasão: a questão do outro.

A ilustração faz referência a Cortéz e Montezuma
Para pensar sobre um termo mais apropriado ao se referir à chegada dos europeus no território que viria a ser chamado de América, uma questão se coloca como primordial: o olhar sobre o outro.
O historiador espanhol da conquista da América, Bartolomeu de Las Casas, colono que se converteu à causa dos ameríndios, é quem faz um alerta sobre o perigo de não se descobrir o outro: como o homem nunca está só, ele não seria o que é sem sua dimensão social.
O que será descoberto pelos europeus não é novidade para os nativos da América. Mas é sim um mundo novo, com o qual os europeus vão descobrir muitas possibilidades. No encontro entre o velho mundo e o novo essas possibilidades se multiplicam a cada dia e seriam mais proveitosas se deste encontro houvesse a compreensão, por parte dos europeus, que as diferenças não deveriam ser transformadas em uma hierarquia de quem domina sobre quem é subjugado.
O homem do século XVI não pôde se livrar de sua cultura que pressupunha apenas duas verdades: civilização e barbárie. Assim, ele se viu como aquele que deveria, pela força das armas, representar a civilização, a moral, a fé, e não escapou da ética mercantilista que o fez transpor tantas dificuldades e as incertezas do mar oceano, desconhecido até aquele momento.
Rapidamente o encontro se transformou em invasão. O outro, em inimigo. A terra, em conquista e colônia de exploração. O perigo para o qual Las Casas alertou se tornou realidade. O homem esqueceu sua dimensão social e, assim, o caminho para ele se conhecer foi mais difícil do que poderia ter sido se não jogasse fora séculos de cultura acumulada pelos Guaranis, Tupis, Astecas, Incas e Maias.
Espero ter ajudado nesta discussão começada em sala de aula, que tem a ver com a formação de uma identidade que ainda se busca forjar, dos povos descendentes deste encontro de dois mundos.
Abraço!
Colombo segudo Todorov

Em “A conquista da América – A questão do outro”, o historiador Tzvetan Todorov investiga as intenções de Cristóvão Colombo ao atravessar o Atlântico. Para tanto, ele nos trás informações sobre os escritos do diário do almirante genovês a serviço do reino da Espanha.
As primeiras impressões nos apontam caminhos que podem enganar os pesquisadores menos atentos: pode parecer que o motivo principal de Colombo é o desejo de enriquecer, sendo o almirante apenas mais um homem ambicioso, como a maioria dos outros navegadores. Mas Colombo, segundo Todorov, não era apenas mais um entre tantos.
Todorov lembra que não são os marinheiros os únicos que esperam enriquecer. Os mandatários da expedição, os reis de Espanha, não teriam se envolvido se não houvesse a promessa de lucro. Assim, Colombo se importa com a riqueza porque ela significa o reconhecimento de seu papel como descobridor e viabiliza o financiamento da viagem.
A intenção de Colombo é encontrar o Grande Can, ou imperador da China, cujo retrato inesquecível tinha sido deixado por Marco Polo. Segundo ele, o Grande Can há muito tempo gostaria de ter sábios para instruí-lo na fé de Cristo. Todorov conclui que Colombo quer realizar o desejo do imperador e cuidar da expansão do Cristianismo!
Para Todorov, a realidade deste projeto de Colombo está comprovada, pois em seu diário o almirante escreve que espera encontrar ouro em quantidade suficiente para que os reis possam, em menos de três anos, preparar e empreender a conquista da Terra Santa.
Você havia lido algo assim? Os livros didáticos não trazem, com muita freqüência, estas discussões. Mas a história pode não ser apenas o que encontramos nos livros didáticos e revelar um pouco do ofício do historiador é o que pretendo neste nosso espaço de discussão.
Abraço!
domingo, 7 de agosto de 2011
Uma geografia do conhecimento.

"A tipografia no México em 1539", gravura - Museu da Cidade do México.
As sedes tradicionais do conhecimento no mundo moderno eram o mosteiro, a universidade e o hospital. Logo o laboratório, a galeria de arte, a livraria, a taberna, a biblioteca, o anfiteatro, o escritório e o café ganharam importância para a produção do conhecimento.
A biblioteca aumentou de importância e de tamanho depois da invenção da imprensa. Mas elas eram centros de estudo e sociabilidade culta e, nestes locais de encontro e de trocas constantes, a exigência de silêncio era impossível e inimaginável!
Os espaços públicos de cidades como Veneza, Sevilha, Roma, Paris, Amsterdã e Londres, facilitavam a interação entre homens de ação e homens de conhecimento, entre nobres e artesãos, entre o trabalho de campo e o gabinete. Além de ligar a Europa à China ou às Américas: cidades asiáticas como Goa, Macau e Nagasaki, cidades americanas como Lima e Cidade do México, e as cidades européias já citadas aqui, configuravam redes de longa distância nessa história do conhecimento nos primórdios do mundo moderno.
Muitas vezes, porém, o que se entendia era um fluxo de informação e conhecimento da Europa para as outras partes do mundo, num modelo de direção centro-periferia, que fazia questão de ignorar os fluxos de conhecimento da periferia para o centro.
Estamos prestes a fazer um estudo de meio que pode nos deslocar de uma posição de centro, se pensarmos São Paulo como grande produtora de conhecimento. Nossa ida a outras cidades nos dá possibilidade de captar o fluxo da periferia para o centro!
Temos a oportunidade de tentar entender a produção da memória nestas cidades por meio do que são suas marcas de um determinado passado. Nosso desafio é localizar a geografia do conhecimento que produziu o que está hoje diante dos nossos olhos. Vai ser preciso olhar para ver!
Este texto foi produzido a partir da leitura do livro “Uma história social do conhecimento”, do historiador Peter Burke*, disponível na biblioteca do Colégio Santa Maria.
Abraço e boa viagem!
*Peter Burke é professor de História da Cultura na Universidade de Cambridge e escreve mensalmente para a seção “Autores” do suplemento “Mais!”, do jornal Folha de São Paulo.
domingo, 31 de julho de 2011
Florença!

Duomo di Firenze - criação de Brunelleschi
A República de Florença conquista a hegemonia da cultura italiana, domina a região da Toscana, tem a sua disposição os portos de Pisa e Livorno. Sua burguesia obtém lucros importantes vindos do comércio com Veneza e investe em construções arquitetônicas grandiosas.
Em Florença, desenvolveu-se o platonismo – uma corrente do pensamento humanista que dá ênfase ao cultivo e a criação do belo através da arte como exercício de virtude e de profunda adoração a Deus. Isto aparece de forma marcante nas obras de Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Rafael e Brunelleschi.
Florença é tida como o berço do movimento renascentista e a noção de renascimento tal como a entendemos hoje, é estabelecida pelo historiador suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) em seu livro “A cultura do Renascimento na Itália” (1867), que define o período como de grande florescimento do espírito humano, espécie de "descoberta do mundo e do homem".
No final do século XV, a França invadiu a Itália e as cidades resistiram com ajuda dos Espanhóis e Alemães, além dos recursos da Igreja. A queda de Florença seria terrível para o humanismo, para o respeito às liberdades e iniciativas individuais que eram marcas da civilização de Florença. O historiador Nicolau Sevcenko afirma que foi esse o medo que levou Maquiavel a escrever o seu “O Príncipe”, uma espécie de manual de política prática, destinado a instruir um estadista sobre como conquistar o poder e como mantê-lo indiferente às normas da ética cristã tradicional.
Procure saber mais sobre o Renascimento. Este é um exercício importante para entender como se forjou um novo olhar sobre o homem e o mundo ao seu redor. A novidade é o que nos movimenta o pensamento. Procure por ela. Sempre!
Abraço!
Veneza!

Imagem aérea de Veneza nos dias de hoje
O historiador Jacob Burckhardt , em seu livro "A cultura do Renascimento na Itália", descreve Veneza como uma cidade inexpugnável (que não se pode vencer, tomar, conquistar pela força das armas) mesmo em uma Itália dilacerada pelos bárbaros. Ao final do século XV, a cidade de pouco mais de 190 mil habitantes, tinha cúpulas antiqüíssimas, torres inclinadas, fachadas incrustadas de mármore, onde os adornos de ouro ocupavam todos os espaços disponíveis. Negócios de todo mundo eram feitos na grande praça central e nas ruas que convergiam para ela, em lojas, armazéns sem fim e estalagens. Em seus canais repousam embarcações de frotas carregadas de vinho e óleo, descarregadas por carregadores e levadas por mercadores. Havia instituições públicas como hospitais e órgãos administrativos funcionando regularmente como em nenhum outro lugar da Europa. Mesmo o sistema de pensões era administrado para atender perfeitamente as viúvas e os órfãos – isto foi conseguido com riqueza, segurança política e conhecimento do mundo, adquiridos pelos venezianos. Tudo isso fez com que Veneza sobrevivesse até mesmo aos mais duros golpes como, por exemplo, as constantes guerras contra os turcos e a descoberta do caminho marítimo para as Índias Orientais pelos portugueses e espanhóis, o que desviou parte do comércio que por ali passava.
Os Venezianos entendiam ter entre seus objetivos gozar o poder e a vida, ampliar o legado dos antepassados e abrir constantemente novos mercados. Este estilo de vida apenas confirma a história dos Polo, desde o estabelecimento do tio de Marco Polo em Constantinopla até as viagens de Marco Polo ao reino de Kublai Khan, como vimos no nosso curso de história, no bimestre passado. E aqui fica meu desejo para que você se lembre e leve com você esta e outras histórias...
Pense Veneza como uma cidade que pode ser comparada às outras tantas que você, de alguma forma, conhece ou vai conhecer. As cidades são intrigantes e únicas. Escreva sobre elas sempre que puder e estará estudando sua história.
Abraço!
terça-feira, 19 de julho de 2011
Na direção do passado que foi Moderno!

"O Nascimento de Vênus" - Sandro Botticelli, 1483.
O século XVI tem características muito especiais, a maior parte da Europa ainda vive sob as condições da Idade Média, mas os ventos da mudança sopram na direção do horizonte que se apresenta no Oceano Atlântico!
A difusão da invenção da imprensa de tipos móveis faz os livros circularem e, com eles, o conhecimento, a cultura e a possibilidade de crítica diante das diversas realidades existentes na Europa.
E as novidades são tantas que é difícil apontá-las neste pequeno texto. Contudo, é possível que nos impressionemos diante do movimento dos artistas italianos, da opulência de Veneza e Florença, da força de movimentos como o Humanismo, a Reforma e a Contrarreforma que vão mexer com a Igreja Católica. Tudo isso tentou fazer a razão ocupar o lugar onde esteve assentado o poder do cristianismo, em boa parte da Idade Média.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que a Europa descobre e coloniza um continente: a América.
Ao nos reencontrarmos na escola, vamos aproveitar o impulso que o comércio deu à Europa para se mover e juntos estaremos caminhando na direção da Idade Moderna. Não perca este “trem” da história.
Abraço!
E para quem quiser saber mais sobre esta pintura de Botticelli, indico o blog abaixo:
http://valiteratura.blogspot.com/2011/03/botticelli-e-escola-florentina-do.html
Clica e vai!
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