Eu roubei um livro. Era de uma namorada minha, na época ela já era historiadora e eu estudante. Tenho-o até hoje e guardo, é verdade, um certo carinho por ele. O autor é Tzvetan Todorov, o livro "A conquista da América".
Falo dele hoje, por que amanhã, na aula de história, vocês verão o "1492 - A conquista do paraíso", filme dirigido por Ridley Scott, que é diretor do também recomendado "Blade Runner".
Embora tratem do mesmo tema - a chegada dos Europeus na América - as abordagens são distintas. Até mesmo, devido às diferenças importantes que existem entre uma produção cinematográfica e a produção de um livro de história.
Uso este espaço para dar voz ao Todorov e sua questão principal no livro: a questão do outro! Em sua primeira linha ele deixa claro: "Quero falar da descoberta que o eu faz do outro".
O autor escolhe falar da descoberta e da conquista da América, a partir da percepção que os espanhóis têm dos índios. Ele descreve a guerra, os horrores, a impossibilidade de se ver como um igual, a necessidade de salvar as almas dos selvagens com a fé cristã, a busca pelas riquezas e a contradição entre essas duas últimas idéias que citei aqui.
Levo o filme e o livro para a sala de aula. Faremos leituras dos dois. Vamos ver se um consegue enxergar o outro no seu próprio corpo...
Abraço e até lá!
quinta-feira, 25 de junho de 2009
quarta-feira, 17 de junho de 2009
O NASCIMENTO DA EUROPA (Parte II)
Segue a continuação do texto de Jacques Le Goff:
A Idade Média realizou uma curiosa combinação entre a diversidade e a unidade. A diversidade é o nascimento da França e da Alemanha, a partir do século IX, da Inglaterra, no final do século XI, e também da Espanha, quando Castela e Aragão se uniram pelo casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, no final do século XV. A unidade vem da religião cristã, que se impõe por toda parte.
Houve também a difusão do ensino. As universidades eram o lugar do ensino superior e, ainda hoje, em toda parte, ainda se configuram como o lugar onde este ensino é difundido. A Idade Média foi o período no qual surgiu e foi construída a Europa. Se cada período de civilização tem um papel, uma missão, no conjunto do desenvolvimento histórico, podemos dizer que a missão da Idade Média foi a de permitir o nascimento da Europa. Não é por acaso que o termo “Europa”, pouco freqüente nos escritos da Idade Média, surge na metade do século XV, no título de um tratado do Papa Pio II. Sob esse aspecto, podemos considerar que esse momento – o século XV – é um primeiro término da Idade Média.
Convido todos a confrontarem este texto com o de Eric Hobsbawm, historiador inglês, postado neste blog em 15/10/2008. É uma outra história da Europa.
Clica e vai!
A Idade Média realizou uma curiosa combinação entre a diversidade e a unidade. A diversidade é o nascimento da França e da Alemanha, a partir do século IX, da Inglaterra, no final do século XI, e também da Espanha, quando Castela e Aragão se uniram pelo casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, no final do século XV. A unidade vem da religião cristã, que se impõe por toda parte.
Houve também a difusão do ensino. As universidades eram o lugar do ensino superior e, ainda hoje, em toda parte, ainda se configuram como o lugar onde este ensino é difundido. A Idade Média foi o período no qual surgiu e foi construída a Europa. Se cada período de civilização tem um papel, uma missão, no conjunto do desenvolvimento histórico, podemos dizer que a missão da Idade Média foi a de permitir o nascimento da Europa. Não é por acaso que o termo “Europa”, pouco freqüente nos escritos da Idade Média, surge na metade do século XV, no título de um tratado do Papa Pio II. Sob esse aspecto, podemos considerar que esse momento – o século XV – é um primeiro término da Idade Média.
Convido todos a confrontarem este texto com o de Eric Hobsbawm, historiador inglês, postado neste blog em 15/10/2008. É uma outra história da Europa.
Clica e vai!
terça-feira, 16 de junho de 2009
Jacques Le Goff nos trata a todos como filhos.
A seguir, uma edição, em duas partes, do último capítulo do livro "A Idade Média explicada aos meus filhos", do medievalista que é referência central da corrente historiográfica conhecida como "Nova História":
O NASCIMENTO DA EUROPA (Parte I)
A Idade Média é, portanto, um longo período: aqueles que não acreditam que ela se prolongue até o final do século XVIII, como eu penso, com o nascimento da indústria moderna e a Revolução Francesa, admitem, no entanto, geralmente, que ela se estenda por dez séculos, do V ao XV - mil anos!
Esse longo período conservou o nome que lhe foi dado pelo Renascimento e que tinha, no começo, um sentido pejorativo: vimos que algumas pessoas, ainda hoje, consideram a Idade Média como uma época cruel ou tenebrosa, ao mesmo tempo violenta obscura e ignorante. Sabemos, atualmente, que essa imagem é falsa, mesmo que tenha existido uma Idade Média da violência: não apenas conflitos e guerras entre grupos e países, mas violências contra judeus, com o começo do anti-semitismo, e repressão contra os rebeldes aos ensinamentos da Igreja, aqueles que eram chamados de “hereges”, por meio da Inquisição. As cruzadas, evidentemente, também fazem parte do balanço negativo.
Mas a Idade Média foi também, acho até que principalmente, um grande período criativo. Podemos ver isso nos domínios da arte, das instituições, sobretudo das cidades (por exemplo, nas universidades), ou ainda no campo do pensamento – a filosofia que chamamos de “escolástica” atingiu altos patamares do saber. Também vimos até que ponto a Idade Média criou “lugares de encontro” comerciais e festivos (as feiras, as festas), que continuam a nos inspirar.
Paro hoje por aqui. Já deu para reconhecer algumas idéias vistas neste bimestre, não é?
Amanhã retomo esta escrita.
Abraço.
O NASCIMENTO DA EUROPA (Parte I)
A Idade Média é, portanto, um longo período: aqueles que não acreditam que ela se prolongue até o final do século XVIII, como eu penso, com o nascimento da indústria moderna e a Revolução Francesa, admitem, no entanto, geralmente, que ela se estenda por dez séculos, do V ao XV - mil anos!
Esse longo período conservou o nome que lhe foi dado pelo Renascimento e que tinha, no começo, um sentido pejorativo: vimos que algumas pessoas, ainda hoje, consideram a Idade Média como uma época cruel ou tenebrosa, ao mesmo tempo violenta obscura e ignorante. Sabemos, atualmente, que essa imagem é falsa, mesmo que tenha existido uma Idade Média da violência: não apenas conflitos e guerras entre grupos e países, mas violências contra judeus, com o começo do anti-semitismo, e repressão contra os rebeldes aos ensinamentos da Igreja, aqueles que eram chamados de “hereges”, por meio da Inquisição. As cruzadas, evidentemente, também fazem parte do balanço negativo.
Mas a Idade Média foi também, acho até que principalmente, um grande período criativo. Podemos ver isso nos domínios da arte, das instituições, sobretudo das cidades (por exemplo, nas universidades), ou ainda no campo do pensamento – a filosofia que chamamos de “escolástica” atingiu altos patamares do saber. Também vimos até que ponto a Idade Média criou “lugares de encontro” comerciais e festivos (as feiras, as festas), que continuam a nos inspirar.
Paro hoje por aqui. Já deu para reconhecer algumas idéias vistas neste bimestre, não é?
Amanhã retomo esta escrita.
Abraço.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Entre o passado e o futuro
Daqui deste momento, começo uma nova trajetória, um ano mais velho, porém falando com outros mesmos meninos e meninas de um outro mesmo colégio, o Santa Maria de 2009.
Começo com um aforismo - e aforismo é, segundo o dicionário do Houaiss, uma máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; é um ditado - pois bem, como eu dizia, aí vai o tal aforismo:
"Nossa herança nos foi deixada sem nenhum testamento".
O pensamento é de um francês que viveu quatro anos na Resistência Francesa, na luta contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Seu nome é René Char.
Este pensamento faz parte da introdução de um livro de Hannah Arendt, autora que um dia vocês vão conhecer melhor pela potência de sua reflexão sobre o século XX.
Aqui, trata-se apenas de uma brincadeira com o título de um de seus livros, justamente o "Entre o passado e o futuro" para significar a pausa que houve no blog e convidá-los a pensar sobre a história que nos foi deixada como herança e com poucas pistas do que fazer afinal com ela...
Vamos juntos então, nos provocar mutuamente e localizar trilhas possíveis para tornar a história mais viva em nossas vidas?!
Que aqui tenhamos bons encontros!
Abraço.
Começo com um aforismo - e aforismo é, segundo o dicionário do Houaiss, uma máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; é um ditado - pois bem, como eu dizia, aí vai o tal aforismo:
"Nossa herança nos foi deixada sem nenhum testamento".
O pensamento é de um francês que viveu quatro anos na Resistência Francesa, na luta contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Seu nome é René Char.
Este pensamento faz parte da introdução de um livro de Hannah Arendt, autora que um dia vocês vão conhecer melhor pela potência de sua reflexão sobre o século XX.
Aqui, trata-se apenas de uma brincadeira com o título de um de seus livros, justamente o "Entre o passado e o futuro" para significar a pausa que houve no blog e convidá-los a pensar sobre a história que nos foi deixada como herança e com poucas pistas do que fazer afinal com ela...
Vamos juntos então, nos provocar mutuamente e localizar trilhas possíveis para tornar a história mais viva em nossas vidas?!
Que aqui tenhamos bons encontros!
Abraço.
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